Sacrifício Moderno: Ibsen e Orwell

      William Johnsen

Por que escritores modernos canônicos estão tão interessados nas formas e linguagem do sacrifício, tanto primitivo quanto moderno? Antropólogos e humanistas que foram seus contemporâneos quase todos “arqueologizam”, enfatizando nossa distância do rito antigo. Porém, escritores modernos estão fascinados com a sua persistência. O seu interesse persistente vai de simplesmente reduzir a distância complacente de um Sir James Frazer, para mostrar que não mudamos ou que somos piores do que antes, ao reconhecimento mais extraordinário do sacrifício como um mecanismo de bode expiatório, que pode ocorrer a qualquer momento e em qualquer lugar em que não for especificamente proibido pelo sistema judicial.

Em outras palavras, os grandes escritores modernos veem continuidades e descontinuidades na estrutura social como um todo, da primitiva à moderna. Além disso, a grande quantidade de material que de repente se tornou disponível através dos avanços tecnológicos globais, permitindo comparações sincrônicas e diacrônicas, faz com tenham vários níveis de imensa ambição, uma ambição coletiva da escrita moderna de delinear a origem e o desenvolvimento (ou queda) de todas as formas sociais.

Mentira Romântica e Verdade Romanesca de René Girard oferece uma explicação mais elaborada para as preocupações da escrita moderna: mito e ritual surgem (não retornam necessariamente) sempre que a ordem moderna falha. Transcendência desviada, como o próprio mecanismo de bode expiatório, é um mecanismo não determinista: sempre que a mímesis se torna competitiva, conflituosa, e a hierarquia se perde, então podemos todos nos tornar deuses aos olhos uns dos outros, chegando ao extremo de sacrificar a todos e para todos.